quinta-feira, 3 de maio de 2007

Antônio Prata pra presidente!

Mais uma dele, dessa vez descrevendo sua chegada a China pra dar inicio ao projeto Amores Expressos que pos 5 escritores brasileiros espalhados pelo mundo pra escrever sobre os locais onde estão; o sacana faz mais uma obra de arte.
De Itabuna a Paris, da China pro resto do mundo. Eis um brasileiro conspirador!

Primeiras impressões
Foram 27 horas de viagem. Eu não demorava tanto tempo as-sim para chegar num lugar desde aquelas intermináveis idas de ôni-bus para a Bahia, na adolescência. O outro lado do mundo é real-mente longe. Só me dei conta mesmo do óbvio depois de cruzar o Atlântico, descer em Paris e perceber que ainda estava na metade do caminho. Então é isso – pensei --, o aeroporto Charles de Gaule é como se fosse assim o Resendão da Dutra, o Graal Itatiaia ou a pa-rada de Itabuna. Só que em vez de esfirra você come um croissant e em vez de um “tudo de bom, meu rei”, você recebe um resmungo de uma provável eleitora do Sarkozy. Mas vamos ao que interessa.
Cheguei no hotel em Xangai 29 horas depois de embarcar em São Paulo e recebi a notícia que o quarto só estaria pronto em uma hora. Saí andando pela cidade. Não dá para dar uma panorâmica porque é muita informação e só andei por uma rua, a do meu hotel. Mas foi o suficiente para perceber que o negócio é mais complicado do que eu imaginava....
Entrei num supermercado e fiquei uns dez minutos babando numa espécie de estande, desses tipo Promocenter, que só vendia pato. Pato assado, pato frito, pato a passarinho, língua de pato, pé de pato e outras coisas de pato que não sei quais são. Depois subi para outros andares e vi o que já tinha lido no livro China, o renascimento do Império, de Cláudia Trevisan: aquários e mais aquários com pei-xes vivos, moluscos se mexendo, sapos e tartarugas de todos os ti-pos, cobras, mariscos de todas as raças, credos e cores. Umas con-chas cuspiam água de vez em quando, num jato fino, mas potente. Tem também camarões secos, como no nordeste. Se arrumar farinha de mandioca já dá para fazer um vatapá. As coisas são mais apetito-sas do que nojentas. Na saída, um garoto de uns 20 anos parou do meu lado na escada rolante e disse: hello. Fiquei pensando: que que esse cara quer comigo? Será que ele tá me chavecando? Mas deixei de ser besta e puxei papo. Seu nome, juro, é Caxambu. Fiz ele repe-tir umas quatro vezes e é isso mesmo. Não sei se se escreve Kai Chang Bou ou Ca Xan Bug, mas fala Ca-xan-bu. Comecei a explicar que in Brasil we have a town anda a mineral water..., mas desisti. Ele perguntou de onde eu era e Brasil não remeteu a nada remotamente conhecido. Mas foi só eu falar Lonaldô que Caxambu abriu o sorrisão e ficou meu amigo. Dei meu telefone para ele e ele me indicou um restaurante. Na base da mímica, consegui comer pato com uns le-gumes. O mais difícil foi pedir a Coca. Quando o garçom entendeu, disse algo que me pareceu google ou baba, qualquer coisa, menos coca. Não adianta. Nem no hotel consigo entender e me fazer enten-der. O negócio é ficar amigo do Caxambu e sair por aí com ele de in-térprete.
Acabei de tomar banho, tomei uma google ou baba light e ago-ra vou sair andando de novo. É tudo tão diferente que to me sentindo em casa. Depois escrevo com mais calma.

Ps. Todos aqueles que me encomendaram as mulheres do Wong Kar Wai (é assim?): ainda não achei nenhuma, mas cruzei com algumas que parecem ser pelo menos primas. Qualquer novidade eu aviso.

Ps 2. Vi o filme novo do Rocky no avião. É, Rocky Balboa, ele mesmo. Tá, tá, eu admito que a viagem para longe, as horas mal dormidas, o efeito desses psicotrópicos que fazem rabino roubar gra-vata e jumbofóbico dormir que nem criancinha podem ter influencia-do, mas digo sem medo de errar: filmão. Até chorei no final.
Engraçado, enquanto o mundo foi ficando horroroso nas últimas décadas, os machões americanos foram ficando fofos? Acho que Clint Eastwood e Silvester Stalone andaram fazendo análise. Ou yo-ga? Agora to no aguardo de um filme de Charles Bronson sobre o a-feto.

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